segunda-feira, 27 de outubro de 2014

No bojo da sepultura todos nós somos iguais

(Marquinhos Freitas, autor)

Dentro do João XXIII
Ou do Izabel Delfino
Será o último destino
Meu e de todos vocês
Que o cemitério é xadrez
Que prende os restos mortais
E o prisioneiro jamais
Arrebenta a fechadura
No bojo da sepultura
todos nós somos iguais

Em novembro quem visita
O cemitério e as covas
vê buquê de flores novas
grinalda e laço de fita
uma mensagem bonita
escrita em um cartaz
e o retrato de quem jaz
desbotado na moldura
No bojo da sepultura
todos nós somos iguais.

A morte é como um castigo
Pra o ser humano entender
Que Deus é quem tem poder
E nos iguala no jazigo
Tanto faz ser um mendigo
Como Hermínio de Moraes
Um vai na frente outro atrás
E a podridão se mistura
No bojo da sepultura
todos nós somos iguais.

No momento que Jesus
Manda chamar a pessoa
Sem asas a alma voa
Quando o espírito é de luz
Enterra o corpo e a cruz
Por ser pequena demais
Só cabe as iniciais
Do nome da criatura
No bojo da sepultura
todos nós somos iguais.

Mata anão, médio e gigante
Rico, pobre, preto e branco
Gordo, magro, fraco e franco
Maltrapilho e elegante
Babá, bebê e gestante
Velho, mocinha e rapaz
Que a morte é bruta e voraz
E com ela a parada é dura
No bojo da sepultura
todos nós somos iguais.

Tem mulher que se orgulha
Usando uma roupa nova
E nem imagina que a cova
E a mortalha lhe embrulha
Num mar de ilusão mergulha
Sonhando alto demais
Quer ser Juliana Paes
No perfil e na altura
No bojo da sepultura
todos nós somos iguais.

A morte mata prefeito
Deputado e presidente
O pai e a mãe da gente
Médico e juiz de direito
Pra que tanto preconceito
E diferenças raciais
Se pra Jesus tanto faz
Pele clara ou pele escura?!
No bojo da sepultura

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários com termos vulgares e palavrões, ofensas, serão excluídos. Não se preocupem com erros de português. Patativa do Assaré disse: "É melhor escrever errado a coisa certa, do que escrever certo a coisa errada”