quinta-feira, 23 de maio de 2013

Minha vida de estudante - Zenóbio Oliveira




Comecei estudar aos cinco anos,
Procurando construir meu futuro,
Não pensei que pudesse ser tão duro,
Que viessem tamanhos desenganos,
Ainda assim, eu tinha em meus planos,
Transformar a lágrima num sorriso,
E pra fazer do inferno um paraíso,
Teria que transpor qualquer barreira,
Mas, estudando assim dessa maneira,
Eu acabo perdendo o meu juízo.

Na escola isolada de Aguilhada,
Matriculei-me, então, para aprender,
Consoantes, vogais, o á-bê-cê,
E as quatro operações da tabuada,
Com a lição enfim assimilada,
Fui mandado para o primeiro ano,
Eu me sentia um sábio soberano,
Um rei, um estudante de primeira,
Mas, estudando assim, dessa maneira,
Eu estouro o tecido craniano.

Os três primeiros anos terminados,
Fui estudar o quarto na cidade,
Eu vibrava com a felicidade,
De alguns sonhos meus realizados,
E com outros maiores planejados,
Quando eu entrei para o ginasial,
Fechei o ciclo do primeiro grau,
Alegria tomou conta de mim,
Porem, sei que estudando tanto assim,
Eu estrompo a máquina cerebral.

Pra cursar o ensino secundário,
Eu tive, então, que vir pra Mossoró,
Era um tempo ruim de fazer dó,
O dinheiro da gente era precário,
Mas, o filho de um homem proletário,
Acostumado à lida desumana,
Tava estudando com filho de bacana,
Botando muito nego no chinelo,
Mas, estudando assim, eu desmantelo,
A engrenagem da caixa craniana.

E dois anos na terra de Luzia,
Até voltar para governador,
O projeto de um bom vereador,
Botou segundo grau na freguesia,
Mas, a batalha ainda prosseguia,
Mesmo tendo passado o mais difícil,
Com afinco, vontade e sacrifício,
Fui vencendo as barreiras pouco a pouco,
Mas, estudando assim, eu fico louco,
E acabo acorrentado num hospício.

Confesso que vivi horas de tédio,
Pensando em como a vida é cruel,
Mas, sabia que o lápis e o papel,
Ser-me-iam o único remédio,
E conclui, enfim, o nível médio,
Fui fazer o vestibular com tudo,
Pra tentar arranjar o meu canudo,
Pois é com um diploma que se medra,
Mas, sei que vou ficar doido de pedra,
Estudando da forma como estudo.

Foi então que ingressei na faculdade,
Educação Física era meu curso,
Muito mais pela falta de recurso,
Do que por vocação ou afinidade,
Porque o que eu queria na verdade,
Era ser engenheiro ou jornalista,
Um homem do direito, um bom jurista,
Ou um advogado de carreira,
Mas, estudando assim, dessa maneira,
Acabo no divã de um analista.

Estudos sociais e geografia,
Arte, matemática, português,
Religião, desenho, o tal de inglês,
Química, física, biologia,
Estudando essas coisas todo dia,
O sujeito não pode ser tranqüilo,
E o destino final será o asilo,
Ou no pior dos males, um divã,
Ou pra sempre tomar DIASEPAN,
Num quartinho qualquer do São Camilo.

Peço somente a Deus que eu não padeça,
De qualquer natureza de loucura,
E que possa alcançar nessa procura,
Apenas o lugar que eu mereça,
E pra não ser um louco da cabeça,
De riqueza e poder eu abdico,
Desta vida é melhor levar um tico,
Desde que mentalmente seja estável,
Melhor ser um pobre bem saudável,
Que ter dinheiro e ser um doido rico.

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